CÍNTIA BORGES
DA REDAÇÃO
No pedido de prisão que fez à Justiça, o Ministério Público do Estado (MPE) detalhou o organograma do esquema de corrupção montado no Departamento Estadual de Trânsito (Detran), alvo da Operação Bereré, deflagrada na manhã desta segunda-feira (19).
No documento, divulgado nesta segunda-feira, o MPE explica que a organização criminosa era dividida em três núcleos: o de "Liderança", "Operação" e "Subalterno".
Os deputados estaduais Mauro Savi, Eduardo Botelho, o ex-federal Pedro Henry, o ex-governador Silval Barbosa e o ex-presidente do Detran Teodoro Moreira Lopes, o "Dóia", faziam parte do "núcleo de liderança".
Este núcleo, conforme MPE, era responsável pela formulação e aprovação de todo esquema de corrupção.
“Para o desempenho destas funções, seus componentes se valem do poder puramente político e/ou poder político-funcional decorrente diretamente dos mandatos eletivos e dos cargos políticos que ocupam, que lhes garantem a ingerência sobre a atuação do Detran/MT na prestação dos serviços públicos objeto da descentralização. Os integrantes deste centro de atuação da organização criminosa detinham não apenas o poder de influenciar as escolhas relacionadas à atuação do Detran/MT", consta no documento.
A parte do ex-governador era se eximir de determinar o nome do presidente do Detran e deixar nas mãos do deputado Mauro Savi essa escolha.
Seus componentes se valem do poder puramente político e/ou poder político-funcional decorrente diretamente dos mandatos eletivos e dos cargos políticos que ocupam, que lhes garantem a ingerência sobre a atuação do Detran
"Na qualidade de governador do Estado, incumbia a Silval da Cunha Barbosa a escolha do nome do presidente do Detran, submetida à aprovação da Assembleia Legislativa de Mato Grosso”, consta no pedido.
Lopes, na qualidade de presidente do órgão de trânsito, era quem detinha o "poder jurídico de determinar as frentes de atuação do Detran, na prestação da atividade administrativa delegada a autarquia".
"Por sua vez, Pedro Henry Neto valia-se do poder de fato que o mandato de Deputado Federal lhe proporcionava para influenciar órgãos integrantes ao Sistema Nacional de Transito a adotarem medidas que tinham repercussão direta na atividade do Detran/MT, bem como para inserir esquemas de corrupção em órgão de trânsito estaduais, lucrando com eles", diz trecho de documento.
"Núcleo Operação"
O segundo núcleo, chamado de "Operação", era formado por 11 nomes. Dentre eles Antônio da Cunha Barbosa Filho, irmão do ex-governador, e Sílvio Araújo, ex-chefe de gabinete de Silval.
O núcleo era responsável pela operacionalização dos esquemas. "São eles quem materializam a vontade da liderança tomando as medidas necessárias para que os esquemas de corrupção sejam realizados"
"Núcleo Subalterno"
Nesta subdivisão do grupo, constam quase 30 pessoas e outras, que, segundo o documento, ainda não foram identificadas.
De acordo com o documento, estes exerciam tarefas com menor complexidade.
"Eles são responsáveis por fazer fluir o dinheiro relacionado às vantagens ilícitas obtidas pela organização criminosa, sendo os destinatários primários da propina que têm a incumbência movimentar o dinheiro, seja para que ele chegue aos destinatários finais, seja para esconder a sua origem ilicita".
Ao final, o Ministério Público Estadual pede para que 49 pessoas citadas tenham prisão preventiva decretada. Entretanto, o pedido foi negado pelo desembargador José Zuquim Nogueira.
A operação
A operação foi desencadeada na manhã desta segunda-feira (19) em Cuiabá, Sorriso e Brasília (DF), com o cumprimento de mandados de busca e apreensão na Assembleia Legislativa, em imóveis e escritórios, além da sede da empresa em Brasília.
São alvos da operação o presidente da Assembleia Legislativa, Eduardo Botelho (PSB), o deputado estadual Mauro Savi (PSB), o ex-deputado federal Pedro Henry, servidores públicos, empresas e particulares.
A operação é desdobramento da delação premiada do ex-presidente do Detran, Teodoro Moreira Lopes, o "Dóia".
Ele revelou esquemas de corrupção na autarquia, iniciados em 2009, e que renderia, ao menos, R$ 1 milhão por mês.
As empresas FDL Serviços de Registro, Cadastro, Informatização e Certificação Ltda. (que agora usa o nome de EIG Mercados Ltda.), e a Santos Treinamento Ltda. teriam sido usadas para lavar dinheiro no esquema.
A EIG Mercados venceu uma licitação, em 2009, para prestar serviços de registro de financiamentos de contratos de veículos, por um período de vinte anos.
Até julho de 2015, a empresa ficava com 90% da arrecadação anual - estimada em R$ 25 milhões - e o órgão com 10%.
Em julho de 2015, já na gestão Pedro Taques (PSDB), o Detran fez um termo aditivo ao contrato, passando a receber 50% da arrecadação.
Veja fac-símile das divisões dos grupos
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