LUCAS RODRIGUES
DA REDAÇÃO
Na denúncia que originou o desdobramento da Operação Sodoma, na última segunda-feira (25), o Ministério Público Estadual (MPE) apontou que o ex-governador Silval Barbosa (PMDB) recebeu cerca de 70% da propina paga pelo empresário Willians Paulo Mischur para que sua empresa, a Consignum, continuasse contratada pelo Governo do Estado na gestão passada.
O total da propina supostamente recebida pelo ex-governador, entre 2010 e 2015, chegaria a R$ 10,1 milhões.
A estimativa foi feita com base em documentos apreendidos e na colaboração premiada firmada entre o MPE e os ex-secretários de Estado de Administração Cézar

Informou que constantemente era cobrado por Silval que reclamava que o valor pago pela empresa era pouco, pressionando César a exigir que o valor fosse aumentada
Zílio e Pedro Elias, que foram alvos de fases anteriores da Sodoma e confessaram a participação no esquema.
“Considerando as revelações de Cézar Zílio é possível constatar que, o valor que ele recebeu, em nome da organização criminosa pela empresa Consignum, atingiu a cifra de R$ 14,5 milhões, tomando por base o valor mínimo de R$ 500 mil. Assim, tendo em vista o percentual mínimo de 30%, que era a parte que lhe cabia, recebeu o valor de R$ 4,3 milhões, e, portanto, entregou a Silval R$ 10,1 milhões”, diz trecho da denúncia, assinada pela promotora de Justiça Ana Cristina Bardusco.
Apesar da cifra milionária, Cézar Zílio relatou ao MPE que Silval Barbosa - preso desde setembro de 2015 no Centro de Custódia da Capital - sempre o pressionava a tentar levantar valores maiores a título de propina.
“Informou que constantemente era cobrado por Silval que reclamava que o valor pago pela empresa era pouco, pressionando Cézar a exigir que o valor fosse aumentado”, disse Zílio.
A partir de agosto de 2013, Zílio foi substituído da função de “fiscal da propina” pelo ex-secretário Pedro Elias. Em sua delação, Elias disse que a substituição ocorreu em razão de Silval desconfiar que Zílio estava sendo “desonesto” no repasse dos valores indevidos.
Dinheiro no banheiro
Zílio contou que, em 2011, assim que assumiu o cargo de secretário de Estado de Administração, Silval Barbosa o orientou a procurar a empresa Consignum para exigir o pagamento de vantagens indevidas, sob o argumento de que o empresário Willians Mischur “precisava ajudar no pagamento das dívidas da campanha eleitoral para governador”, realizada em 2010.
A empresa fazia o gerenciamento dos empréstimos consignados dos servidores do Estado e, para manter o contrato, teria sido exigido propina de R$ 500 mil por mês.
O valor, segundo a denúncia, deveria ser pago a Cézar Zílio, que, no mesmo dia, repassaria o montante ao então governador.
“César Zílio afirma, às fls. 122/142, que durante o período em que estava negociando com o empresário, o valor da vantagem indevida exigida era constantemente cobrado por Silval, que lhe exigia a pronta entrega do dinheiro, afirmando que precisava pagar contas”, disse.
O repasse, de acordo com a denúncia, era feito da seguinte maneira: Zílio ia até a empresa Consignum, pegava o dinheiro em espécie e depois deixava o montante no banheiro do gabinete de Silval Barbosa, no Palácio Paiaguás.
“Se dirigia ao gabinete do governador, sempre após o expediente, já no período noturno, levando o dinheiro em uma sacola ou envelope que pessoalmente deixava no banheiro do gabinete, na presença de Silval, avisando-lhe textualmente o valor deixado e quem procedera ao pagamento”, delatou.
Líder da organização
Na denúncia, a promotora Ana Bardusco afirmou que Silval Barbosa era o líder da organização criminosa e trocava os colaboradores do esquema de acordo com seus interesses.
“Ilustrando a condição de líder, ressalta os aspectos que serão detalhados ao longo desta peça, que demonstram que, no surgimento de desavença e/ou discórdia entre os membros, a palavra final e prontamente acatada por todos era a de Silval Barbosa”, disse ela.
Para a promotora, a função de Silval no esquema era a de garantir a estrutura e a manutenção da organização criminosa instalada nos bastidores do seu Governo.
“Na condição de garantidor dos demais membros, não aparecia no cenário dos crimes, papel desempenhado pelos cúmplices, que assumiam a linha de frente, quer na exigência ou recebimento da vantagem indevida e/ou na respectiva lavagem”, acusou.
Leia mais sobre o assunto:
MPE: Walace organizou esquema e pagou R$ 2 milhões a grupo
“Pessoas são presas com base em delações sem comprovação”
Denúncia diz que Rodrigo era a "extensão do poder" de Silval
MPE faz organograma de como funcionava a "organização"; veja
MPE denuncia Silval, Wallace, Nadaf e mais 14 por esquemas; veja
Preso, filho de Silval chega à Defaz para prestar depoimento
Quer receber notícias no seu celular? Participe do nosso grupo do WhatsApp clicando aqui .
Tem alguma denúncia para ser feita? Salve o número e entre em contato com o canal de denúncias do Midiajur pelo WhatsApp: (65) 993414107. A reportagem garante o sigilo da fonte.