CECÍLIA NOBRE
Da Redação
Arquivo pessoal

O pai de Ana Vitória (ao centro), Valdemar Nestor Filho (à esquerda), aponta que a garota mostrava sinais de que amava o futebol desde os três anos
Ana Vitória, a jogadora de futebol Rondonopolitana que foi uma das 23 atletas convocadas para a Copa do Mundo de Futebol Feminino é, segundo relato da família, “uma mulher de muita fibra, forte, que faz a diferença e que sempre está em busca de novos desafios”. Em vídeo, a família deixa um recado para a jogadora e também para toda a Seleção. Veja o vídeo no final da matéria.
A jogadora começou sua paixão pelo futebol muito cedo, em entrevista ao Mídiajur o pai da atleta, Valdemar Nestor Filho, disse que aos três anos ela já mostrava os sinais de que amava o esporte. “De domingo eu dormia até mais tarde e sempre acordava com o barulho dela chutando a bola na parede e quando eu menos percebi ela já estava sentada no sofá, assistindo aos jogos na TV e entendendo tudo” relatou Valdemar.
Na época, a família frequentava o Caiçara Tênis Clube, em Rondonópolis e lá Ana Vitória queria jogar futebol com os meninos, mas eles não deixaram no começo, por ela ser menina. A mãe da atleta relatou que Ana ficou tão brava por não poder jogar que pegou a bola do meio do campo e saiu correndo. Depois que Carlos, um professor e amigo da família, conversou com os meninos, Ana pôde jogar e aí que veio a surpresa, “acontece que a menina era boa de bola e ao invés deles quererem que ela saísse, passaram a disputar pra qual time ela iria jogar” contou Magdaleide Klimachewski, mãe de Ana Vitória.
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Ainda de acordo com a mãe da jogadora, Ana não queria saber de outra coisa que não fosse futebol. Ela relatou que quando a filha tinha 4 anos a levou em uma aula de jazz, com o intuito de que Ana começasse a fazer ballet, mas a escolha da atleta foi outra: “Ballet não, mamãe, eu quero futebol”. E foi nesse período que os pais decidiram colocar Ana e o irmão, João Victor, em uma escolinha de futebol.
Infelizmente a primeira tentativa de frequentar uma escolinha não deu certo, ao chegarem na sede do União Esporte Clube, que tem uma escolinha de base para crianças, foram informados que João Victor poderia entrar, mas Ana Vitória não, por ser menina. Magdaleide relatou que ficou irritada e disse a eles: “se ela não pode ficar, então não fica ninguém!”, em seguida pegou as crianças e voltou para casa.
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Ana Vitória mostrava talento para o futebol desde criança e foi a primeira menina na escola de base do REC
Quase um ano depois, o professor Carlos conversou com Valdemar e disse que uma escolinha de base, chamada San Rafael, ligada ao Rondonópolis Esporte Clube, poderia aceitar Ana Vitória e seu irmão, pois ele havia informado ao clube sobre o potencial das crianças. Foi nesse momento que Ana marcou história, com apenas 6 anos, sendo a primeira menina a jogar na escola de base do REC, disputando as partidas com meninos.
Sobre as dificuldades de ser uma mulher e jogar futebol, Valdemar, que sempre acompanhou a filha nos jogos a ponto de ficar na lateral do campo, relata que a resistência sempre foi maior entre os adultos do que entre as crianças “a gente nunca teve problema com a gurizada, inclusive eles gostavam muito dela e até hoje são amigos, mas os adultos que davam trabalho”.
João Victor relata um momento difícil na infância de quando ele e Ana jogavam pelo REC e que participariam de um campeonato no estado de Goiás. Essa competição era conhecida pela presença de “olheiros”, pessoas que observavam os jogos e convidavam os jogadores mirins para entrarem em grandes clubes, mas devido ao regulamento Ana foi proibida de participar, por ser mulher. “Não tinha muito o que fazer na época, eu lembro que meu pai brigou com o pessoal, teve até ação judicial no meio, mas sei que essa situação me deixou muito bravo”.
Quando completou 12 anos, Ana participou de uma seletiva, em Cuiabá, para entrar na Seleção Brasileira de Futebol Feminino Sub-17, com a treinadora Emily Lima e conseguiu, disputando partidas no Paraguai. Em 2017, a jogadora se transferiu para o time feminino do Corinthians, onde conquistou o Campeonato Brasileiro e a Libertadores. Assim que fez 18 anos, Ana foi para Portugal, jogar pelo Benfica conquistando 11 títulos e realizando mais de 60 gols. No início deste mês, Ana assinou contrato com o clube francês Paris Saint-Germain onde jogará como meio-campo.
Sobre a convocação para a Copa do Mundo, Valdemar disse que ficou muito ansioso. Em relato, o pai da jogadora disse que normalmente quando ela joga e vai bem, o dia dele vai bem, mas quando ela joga e vai mal, o dia dele também vai mal, então no dia da convocação ele estava muito nervoso. “Eu não sei porque, eu estava muito nervoso e ansioso, mas quando a Pia falou o nome dela, aí eu pensei: agora ninguém segura a gente’’ comentou Valdemar.
Já o irmão, João Victor disse que não ficou surpreso “Eu estava conversando com a minha esposa pelo celular e ela perguntou se já tinha saído a lista e eu disse que não, mas que só faltavam anunciar o nome dela, porque eu sei que ela vai entrar. E quando aconteceu eu fiquei muito feliz, até assamos uma carne e ela chamou alguns amigos.”
O primeiro jogo da Seleção Brasileira na Copa do Mundo acontecerá as 7 horas da manhã na segunda-feira (24).
Veja o vídeo da família da jogadora:
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