ANGELA JORDÃO
DA REDAÇÃO
O presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso, Lucas Costa Beber, avaliou como extremamente positivo o 19º Circuito Aprosoja-MT, encerrado essa semana em Cuiabá. Beber exaltou a conexão com os produtores rurais e apresentou preocupações com o atual cenário do agronegócio no estado. Segundo ele, os altos juros, o endividamento dos produtores e a moratória da soja são temas que exigem atenção urgente por parte das autoridades.
A edição 2025 do circuito percorreu os 32 núcleos da associação, em todas as regiões de Mato Grosso, com o objetivo de levar conhecimento, dados, troca de experiências e novas tecnologias aos produtores rurais.
“Foi um sucesso, muita satisfação”, resumiu Beber, para quem o evento representa o “sangue da entidade”, ao permitir contato direto com os associados e a escuta das principais demandas de cada núcleo. “É um dia dedicado a que os associados estejam mais próximos, sentindo de fato aquilo que o produtor está vivendo”.
O presidente da Aprosoja-MT também destacou que o circuito é uma oportunidade para aproximar a sociedade do setor agropecuário, explicando seus desafios e mostrando o trabalho da entidade.
Juros altos e endividamento
Lucas Beber não esconde a preocupação com a situação financeira dos produtores. “O produtor está com nível de endividamento alto, juros altos, o que representa um desincentivo à produção agrícola”, disse. Segundo ele, nos últimos dois anos houve uma queda nos preços das commodities, enquanto o custo de produção disparou.
“Este ano, o custeio da lavoura em Mato Grosso pode ultrapassar R$ 7.000 por hectare, enquanto a renda bruta está em torno de R$ 6.400. Ou seja, o produtor está operando no prejuízo”, alertou.
Para ele, a taxa Selic elevada, atualmente em 15%, e a possível limitação de recursos no novo Plano Safra dificultam ainda mais o cenário, especialmente para produtores que investiram na expansão da fronteira agrícola nos últimos anos. “O produtor precisa seguir plantando para sair desse poço fundo”, declarou.
APROSOJA-MT

Gargalo do armazenamento e risco à produção
Outro ponto crítico apontado por Beber é a infraestrutura de armazenamento de grãos em Mato Grosso. Segundo ele, o estado armazena cerca de 50% da produção, apenas, o que força a comercialização imediata e impacta negativamente os preços. “O escoamento rápido desvaloriza a produção. Além disso, o crédito rural já vinha insuficiente, e agora com juros altos, fica pior”, explicou.
A Aprosoja também tem reivindicado mais incentivos à modernização de máquinas e tecnologia, que hoje enfrentam desestímulo diante do custo elevado de financiamento.
Moratória da soja
Questionado sobre a análise do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) a respeito da moratória da soja, Beber foi enfático: “Mais de R$ 20 bilhões saem da economia de Mato Grosso por causa da moratória”.
Segundo ele, embora o foco da moratória seja impedir a compra de soja de áreas desmatadas ilegalmente após 2008, muitas empresas aplicam restrições a todo o CPF do produtor ou ao grupo familiar, o que impacta mais de 2,7 milhões de hectares só em Mato Grosso.
“É uma generalização que prejudica quem está produzindo legalmente. A Aprosoja-MT pediu R$ 1,1 bilhão em ressarcimento por danos morais”, afirmou, lembrando que há ações em tramitação no Cade, no Congresso Nacional e em entidades como a Confederação Nacional da Agricultura.
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