Estamos em agosto, mês comumente dedicado ao Festival do Olubajé, que significa “O banquete do Rei”.
É uma cerimônia realizada pelo Candomblé em honra ao orixá Obaluaiyê, que é a divindade que controla as doenças e, por isso, conhecido como o orixá da saúde.
Eis um dos mais belos rituais públicos do Candomblé, já que sua força está no banquete formado pelas comidas que são servidas ritualisticamente aos orixás e que são partilhadas a todes us convidades.
Essa é uma manifestação de extrema significância, principalmente, em um Brasil que no último trimestre de 2020, segundo dados da Universidade Livre de Berlim, na Alemanha, em parceria com as Universidades de Brasília e a Federal de Minas Gerais, tinha 125,6 milhões de brasileiros em situação de insegurança alimentar.
Sim, reunir-se em torno do alimento é uma das características do culto aos Orixás porque é a reprodução do que deveria acontecer em nossas casas, a comunhão em torno do resultado do trabalho diário, transformado em refeição.
Contudo, não é o que está acontecendo no Brasil. Milhares de famílias não têm o que comer, e isso significa que muitas pessoas, inclusive, muito próximas a nós, estão nesta condição.
Quando Obaluaiyê nos convida para compartilhar de seu banquete ele nos mostra que estamos na mesma condição. Isso se materializa quando, independentemente da condição social, cada um que se aproxima da refeição oferecida pelo Orixá, precisa estar descalço e com uma atitude de humildade.
Obaluaiyê significa “rei da terra”, e isso significa que quando nos aproximamos desse orixá significa devemos reverenciar tudo o que somos e temos, pois, vivemos sobre a terra e mesmo que não tenhamos um nível de consciência coletiva suficiente para convivermos como irmãos e irmãs e, dessa forma, aniquilar a desigualdade social do nosso meio, perante “O Rei da Terra” precisamos reconhecer nossa dependência da coletividade.
Infelizmente, falta esse nível de consciência de forma preocupante em nossos governantes e nas forças político-econômicas que dominam nossa sociedade.
Quando Obaluaiyê nos convida para compartilhar de seu banquete ele nos mostra que estamos na mesma condição. Isso se materializa quando, independentemente da condição social, cada um que se aproxima da refeição oferecida pelo Orixá, precisa estar descalço e com uma atitude de humildade
Isso se manifesta na ausência de políticas públicas realmente sensíveis às necessidades do povo e também na concentração do poder econômico em poucas mãos que criam um sistema de mercado totalmente excludente aos mais necessitados.
Somos um povo que hoje padece por conta de um maldito vírus, e muitos de nós está padecendo por falta do pão de cada dia.
Somos tentados a analisar a miséria e a fome com indiferença, principalmente, quando somos minimamente privilegiados, com condições para fazer no mínimo três refeições por dia, ter um lugar para dormir, e alguns outros privilégios que muitos sequer vislumbram possuir.
Em suma, o Olubajé é mais um ensinamento ancestral que coloca todes em torno da mesma mesa, compartilhando o mesmo alimento, sem distinção. Reproduzir isso na sociedade é evidentemente muito difícil, ainda mais com os passos largos que temos dado rumo à indiferença e à falta de empatia, mas não custa tentarmos, mesmo que de forma pequena, e em nossas comunidades.
Que Obaluaiyê, Xapanã, Xapata, Omolu, Ajunsu (mesmo nomes ou qualidades desse orixá) possa nos abençoar, nos ensinando a partilhar, a reverenciar a vida, a ancestralidade, os irmãos e irmãs que formam nossa comunidade/ família e que possamos vencer a indiferença, a desigualdade e a incompreensível falta de alimento entre as pessoas, principalmente, neste país que é um dos maiores produtores e exportadores de commodities do mundo. Que nunca sejamos vencidos pelo cansaço de lutar!
Atotô Obaluaiyê! Axé!
VINÍCIUS BRUNO é jornalista em Mato Grosso.
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